Jade Picon: "Nunca me senti tão à frente das minhas decisões" (2024)

Depois de ser eliminada com 84,93% dos votos no Big Brother Brasil 22 (em um Paredão com o segundo maior número de votos por minuto da história), ela virou o jogo. Recusou ser limitada à sua taxa de "rejeição" e se aventurou na teledramaturgia -- com direito à personagem de destaque no horário nobre da maior emissora do país --, aumentou seu alcance nas redes sociais e investiu em sua marca de roupas, a Jade², que passou por um rebranding no final do ano passado. "Nunca me senti tão à frente das minhas decisões, tanto pessoais quanto profissionais", diz Jade.

Tanto planejamento a levou ao after-party mais importante do Oscar: a festa da Vanity Fair. Além dela, apenas Anitta esteve como representante do Brasil no evento que acontece, tradicionalmente, logo após a premiação e neste ano reuniu nomes como Robert Downey Jr., Florence Pugh, Kim Kardashian, Jennifer Lawrence, Emma Stone e Sydney Sweeney.

"Foi a realização de mais um grande sonho meu. Estar perto de pessoas tão renomadas, tão prestigiadas, em um evento tão importante foi maravilhoso. Estive na watching party do Elton John para assistir ao Oscar e depois teve o afterparty", conta. "Foi realmente um sonho. Vi muitas pessoas que admiro e cheguei até a conversar com a Billie Eilish. Eu a acompanho há muitos anos, ela é extremamente talentosa e tem a minha idade. Foi mágico".

Multifacetada, Jade afirma que quer investir cada vez mais em sua carreira como atriz, mas sem abrir mão de seus trabalhos como influenciadora e empresária. Em seus planos para o curto prazo está um curso de atuação fora do país.

"Não tenho pressa de já começar outro trabalho, estou me dedicando aos estudos e no processo de tirar o DRT. Meu próximo passo é fazer uma imersão de duas semanas em um curso na Europa que foi muito indicado", conta. "A atuação foi algo que transformou a minha vida. A Chiara (antagonista da novela Travessia) foi muito importante para mim. Com certeza é um caminho que quero seguir".

Em bate-papo com Vogue, Jade ainda fala sobre sua relação com a moda e a beleza; reflete sobre as pressões estéticas de trabalhar com sua imagem; os constantes rumores sobre sua vida amorosa e desabafa sobre assédio. "Já vivi situações que precisei chamar a polícia". Veja o bate-papo na íntegra abaixo:

Vogue Brasil: Como você encara tudo que vem acontecendo na sua vida?
Jade Picon: Acho que vai muito da minha personalidade, mas gosto de me jogar. Penso que se algo está acontecendo para mim, é porque é para eu estar ali, fazendo, curtindo, me divertindo. Dificilmente sinto que não sou pertencente a um determinado ambiente ou situação. No Oscar, por exemplo, me vi aos 22 anos, estudando atuação e dentro de um evento dessa magnitude. Me sentir mal nem passou pela minha cabeça. Estava muito feliz, entrei na festa querendo dançar, beber, comer e conversar com as pessoas. Sempre vão querer me desmerecer ou colocar para baixo, mas com as oportunidades que tenho tido não tenho tempo para pensar em outra coisa que não seja aproveitar elas ao máximo. No final do dia, quem vai deitar a cabeça no travesseiro sou eu. Quero sentir que aproveitei e dei o meu melhor.

Vogue Brasil: Como enxerga seu futuro profissional? Pretende ser cada vez mais atriz do que influenciadora ou empresária?
Jade Picon: Não acho que eu tenha que fazer uma escolha. São grandes paixões da minha vida e acredito que consigo tocar as três frentes dentro do possível. Vai ter vezes que vou estar mais focada como atriz e outras como empresária, mas não quero abrir mão de nenhuma delas, principalmente da internet. Foi ali que surgi e é onde tenho contato direto com meus fãs. Mas a vida é um grande equilíbrio. Quando estava na novela, tive que parar um pouco com a minha marca. Agora que não estou em nenhum trabalho como atriz, consigo olhar para a Jade². Para mim, minha carreira é um mar aberto de infinitas possibilidades.

Vogue Brasil: Você sofre quando percebe que não está conseguindo dar conta de tudo e precisa se afastar de alguma atividade para focar mais em outra?
Jade Picon: É claro que me dói, porque é algo que amo, mas sou uma pessoa muito racional. Consigo ver com clareza o que é necessário abdicar. Nos últimos três meses de "Travessia", as pessoas não me viam. Se não estava no estúdio gravando, estava em casa estudando. Tive que abrir mão de muita coisa, vida social, trabalhos e oportunidades, porque estava focada naquilo. Costumo encarar tudo dessa forma. Muito se fala do meu estilo saudável e do meu corpo, mas perco muitas coisas para mantê-los. Acredito que temos que ter uma meta, traçar uma rota e ir em frente, por mais que doa e que não seja fácil. Enxergo a vida assim e geralmente vale a pena.

Vogue Brasil: Algum sonho profissional que ainda não realizou?
Jade Picon: Ser capa da Vogue. Fazia coleção quando era pequena e ter sido convidada para o primeiro livro da revista [o "InVogue", lançado em outubro] já foi uma grande realização. Tenho muitos sonhos e planos, mas nunca uma coisa impossível, porque gosto de traçar metas e alcançá-las. Já quis estar onde estou agora e sei que vou chegar onde quero. Entendi que preciso aproveitar o percurso, senão vira uma bola de neve. Amo aprender, lido bem com os meus erros e não tenho medo de errar.

Vogue Brasil: Quem te inspira?
Jade Picon: É uma mistura de muitas referências, mas acho que posso aproveitar e falar da Billie, com quem tive agora no Oscar um encontro muito significativo. Ela foi uma fofa comigo. É muito gostoso quando você é fã de alguém e a pessoa realmente é aquilo que você imagina. Também admiro a relação que ela tem com o irmão. Além disso, ela é muito autêntica. É elogiada e criticada, mas não perde a linha dela. Vai atrás dos seus sonhos e realiza coisas inimagináveis. Acho ela o máximo!

Vogue Brasil: Qual a sua relação com a moda hoje?
Jade Picon: Meu relacionamento com esse universo começou bem cedo. Com meses de idade já trabalhava como modelo fotográfica, mas passei a prestar mais atenção quando tinha uns seis ou sete anos. Nessa época, fazia muito lookbook e vestia dezenas de roupas de uma só vez. Foi quando comecei a querer me vestir sozinha. Personalizava roupas, cortava, fazia coleção de revistas, minha mãe sempre me deu essa liberdade... Então, veio a internet. Meu irmão [Leo Picon] lançou uma marca e tive a oportunidade de desenvolver coleções. Daí surgiu a vontade de ter a minha própria etiqueta. Hoje, tenho a oportunidade de prestigiar semanas de moda e isso é muito agregador tanto para a minha profissão como influenciadora, quanto para a minha marca. Acredito muito na moda como uma potência de expressão. Sempre penso: qual imagem quero passar? O que quero comunicar? Gosto muito desse processo, uso e abuso a meu favor.

Vogue Brasil: E com a beleza, se sente pressionada de alguma forma?
Jade Picon: Não. Acho que podem me pressionar, mas não me sinto pressionada. Estou na internet desde os 12 anos, já chorei por críticas, respondi haters, bloqueei... Imagina, uma criança de 12 anos tendo que ler comentários sobre as suas próprias inseguranças. Hoje escolho direcionar a minha atenção. Claro que me pressionam, mas é de uma atmosfera com pressão que saem os diamantes, né? Gosto de dizer que as coisas me atravessam, mas não me derrubam. Já passei por muitas coisas na internet, mas hoje me sinto mais forte.

Vogue Brasil: Qual sua opinião sobre procedimentos estéticos, já se arrependeu de alguma coisa que fez?
Jade Picon: Vejo as intervenções estéticas como algo muito pessoal. Acredito que é uma decisão única e intransferível. Você tem que decidir por você. Ano passado, decidi colocar silicone [nos seios] e me pronunciei dizendo que não ia falar sobre o assunto nas redes sociais. Entendi que era a decisão mais responsável e madura. Sei o peso que a minha voz tem e sei das milhões de mulheres que me acompanham. Não quero influenciar as pessoas a fazerem uma cirurgia, algo tão sério. E não, não me arrependi de ter feito. Foi ótimo! Eu simplesmente pedi uma prótese que fosse do tamanho do peito que tinha antes. Não descarto a possibilidade de fazer algo a mais no futuro, mas no momento não tem nada no meu radar.

Vogue Brasil: Não são poucas as especulações sobre a sua vida amorosa. Você está solteira?
Jade Picon: Solteiríssima, gente! Isso é uma loucura. Fico indignada com muitas coisas que leio, mas ao mesmo tempo sei que faz parte. Não é algo que tira meu sono. Então, sim, estou solteira, mas tenho amigos homens. Pasmem! Quando estiver namorando, vou falar. Gosto de compartilhar a minha vida e ser transparente com quem me acompanha. Não precisam ficar preocupados [risos].

Vogue Brasil: Sente que essas polêmicas aumentaram depois da sua passagem pelo BBB?
Jade Picon: Com certeza. Quanto mais conhecido você é e quanto mais sucesso você faz, mais você vai ser criticado, mais as pessoas vão falar de você. Vejo isso muito como um indicador do lugar que estou na minha carreira. Afinal, se estão falando é porque estou rendendo. Mas não é do meu agrado estar 100% no olho do furacão. Uma frase que você não vai ver saindo da minha boca é 'fale bem ou fale mal, mas fale de mim'. Não é algo que penso. Muitas vezes é frustrante para mim, porque me envolvem em polêmicas machistas, em matérias sensacionalistas, mas sei que faz parte da vida que escolhi.

Vogue Brasil: Ainda nesse tema, durante sua viagem para Los Angeles você compartilhou uma cantada inconveniente que recebeu de um desconhecido. Antes, você já tinha publicado no TikTok um vídeo compilando uma série de situações desconfortáveis que passou com homens. Como lida com isso?
Jade Picon: Meu sonho é que os homens se eduquem. Uma vez escutei de um cara 'ah, mas você viu que eu te respeitei, né?'. Isso é o mínimo! Isso é de onde a gente precisa partir. Se sou uma pessoa extremamente privilegiada, em diversos níveis e camadas, e passo por momentos tão desagradáveis, mal posso imaginar o que outras mulheres na realidade do nosso Brasil passam. Já vivi situações que precisei chamar a polícia. Sei como é você ser assediada e se sentir culpada. Por isso, hoje uso a minha voz e responsabilidade para comunicar e expor certos episódios. Tem mulher que está sendo assediada e nem sabe. Quanto mais a gente abrir essa conversa e expor a falta de noção de tantos homens, melhor vai ser.